2015.2 – Curso: “O que é comprimido hoje?” com Natasha Helsinger


A popularização dos psicofármacos e dos enunciados psiquiátricos se dá de tal forma que não é incomum os pacientes chegarem aos consultórios se dizendo portadores de algum transtorno ou demandando algum medicamento. Paralelamente, a disseminação de riscos, que se dá de forma ampla, geral e irrestrita, contribui para a crença de que somos imortais, o que evidencia que a noção de finitude está sendo colocada em xeque. Tendo em vista que a crise da psicanálise ganhou novas feições e que isso abrange uma gama de elementos políticos, sociais e simbólicos, o curso objetiva discutir a perda do poder simbólico da psicanálise, sendo ela pensada a partir da colocação em questão dos registros simbólico e histórico do sujeito. Para isso, problematizaremos a eficácia produtiva dos discursos da psiquiatria, das neurociências e do cognitivismo, que ganharam centralidade na lógica neoliberal, analisando como eles se coadunam à mercantilização dos riscos, da performance, dos diagnósticos e dos psicofármacos.

Natasha Mello Helsinger,  psicóloga (PUC-Rio), mestre e doutoranda em Teoria Psicanalítica (UFRJ), membro do Espaço Brasileiro de Estudos Psicanalíticos.

 

Início: 20 de agosto

Horário: Quinta-feira, das 18h às 19h30

Freqüência: Semanal

Duração: 12 encontros

Valor: R$ 300, 00 (ou 3 X de R$ 110,00)

Forma de pagamento: Mensal, 1a aula de cada mês.

Inscrições até o dia 17/08 pelo e-mail: nucleocasaverde@gmail.com

 

Plano de aula: 

20/08: O processo de medicalização e seus entornos

Problematizaremos os atuais discursos da saúde a partir de uma análise genealógica do processo de medicalização, o que implicará em revisitarmos a concepção foucaultiana de discurso, dispositivo, poder,  saber, normal, anormal e patológico.

27/08: O corpo-indivíduo, o corpo-espécie e o corpo lesionado

Discutiremos os diferentes investimentos que foram dirigidas ao corpo pela disciplinarização dos gestos,  pela anatomopolítica dos corpos e pela anatomoclínica.

03/09:  Risco e diagnóstico

Examinaremos como a categoria de risco se insere no atual discurso psiquiátrico  –  como no DSM-IV e nas pesquisas sobre psicopatia – e como ela se relaciona à teoria da degenerescência e da herança mórbida.

10/09: Os riscos da infinitude

Analisaremos como a consciência “cientificizada” dos riscos, os novos limiares de medicalização e as promessas de eternização colocam em xeque a noção de finitude.

17/09: A cultura do narcisismo no lago da eficácia: luz, performance e ação?

Apresentaremos a hipótese de Robert Castel sobre a “psiquiatrização da normalidade” e a “terapia dos normais”, para pensarmos a relação entre psicopatologia e performance na sociedade de risco, proposta por Ulrich Beck.

24/09: Neuróticos, desculpem os transtornos, estamos  trabalhando para melhor medicá-los

A partir da hipótese de Borch-Jacobsen sobre a proliferação das descrições psiquiátricas, discutiremos a relação entre indústria farmacêutica, marketing e imperativo da rentabilidade.

01/10: O “neokraepelianismo”: o retorno dos que não foram?

Examinaremos a relação que se estabelece entre “neokraepelianismo” e a indústria farmacêutica, como também, algumas mudanças paradigmáticas que ocorreram na elaboração dos manuais diagnósticos.

08/10: O cérebro como ator social

Investigaremos como a programação da eficácia articula-se ao sujeito cerebral e analisaremos as hipóteses de Ehrenberg e Ortega a respeito da relação do sucesso das neurociências e o ideário de autonomia e realização pessoal.

15/10: A psiquiatrização e a demanda clínica

Considerando a exclusão do referencial psicanalítico no DSM-III, discutiremos como a psiquiatria se automatizou da psicanálise, examinando como a facilitação no acesso das drogas psicofarmacológicas incide no campo da demanda clínica.

22/10: A crise da psicanálise

A partir da hipótese de Joel Birman, discutiremos a crise da psicanálise a partir de dois vetores: o esgotamento do processo de modernização do social e o desinvestimento que a tradição pós-freudiana realizou em relação ao corpo.

29/10: O sujeito comprimido e o futuro da psicanálise

Defenderemos a hipótese de que os discursos da psiquiatria biológica, das neurociências e da psicologia, ao privilegiarem os fatores bioquímicos, cerebrais e o comportamento, colocam em xeque a noção de sujeito.

05/11: Desamparo, finitude e feminilidade

Interrogaremos se o discurso científico, como um suposto garantidor da longevidade e da performance, não funciona como um derivativo poderoso que nos protege de nossa condição de feminilidade.

 

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